A mais nobre alegria dos homens que pensam é explorar o concébivel e reverenciar o incognoscível.
crop circles - Windmill Hill, Avebury, Wiltshire - Inglaterra em 06 de Agosto de 2009
Foto de Philippe Ulles
Por Rudolf Lanz
Transcendendo a sua própria individualidade, o homem especula sobre o destino da humanidade. Surge o problema da evolução e, com ele, o da criação e da morte. Voltando a si próprio, ele procura em vão uma explicação para a essência da sua própria personalidade, dos valores espirituais. A filosofia moderna ensina-lhe que a "realidade" e a "verdade" são outras tantas ilusões. Tudo é relativo, incerto, incognoscível. A moral e os impulsos sociais perdem seus fundamentos.
Tudo isso não fica no domínio da teoria e da especulação. Ao redor de si o homem vê o caos social, a impossibilidade de harmonizar o campo econômico, de disciplinar a política. Desmoronam-se os velhos pilares da vida em comum: família, autoridade, matrimônio, educação, religião, governo, etc., e uma juventude sem ideais, desiludida, "transviada", apresenta contas à geração dos seus pais, que lhe deixou tal herança.
De onde vem essa situação caótica?
As velhas religiões não souberam resistir ao impacto do racionalismo (Voltaire, Diderot) e da ciência (Darwin, Haeckel, Huxley, etc.). As respostas dadas pelas religiões às "perguntas eternas" deixaram de ter seu valor e sua força. O homem moderno não quer fé nem crença; ele procura fatos e certezas.
A filosofia desde há muito tem perdido o contacto com a realidade humana e social. Os seus maravilhosos sistemas do passado não falavam ao coração do homem. Seus ideais e seus edifícios espirituais, sublimes obras de alguns gênios privilegiados, constituíam torres de marfim cuja aparente irrealidade contrastava vivamente com o império das ciências que passaram a revolucionar o pensamento do homem, desde as suas tímidas manifestações no fim da Idade Média.
Woodborough Hill Alton Barnes Wiltshire Inglaterra em 22.07.2009
Começou então a era das ciências. Quanto orgulho encontramos na famosa resposta do astrônomo Laplace ao Imperador Napoleão, ao qual expusera a sua teoria cosmogônica, e que lhe perguntou onde havia nesse sistema um lugar para Deus: "Sire, je n'ai pas bésoin de cette hypothèse". Mas a ciência trilhou um caminho que também a afastou gradativamente da "realidade". Reduzindo todas as qualidades a quantidades, exprimindo fenômenos sensíveis e "reais" por leis e números, ela satisfez o pendor do homem de procurar compreender racionalmente o mundo; mas esse mesmo mundo ficou privado das suas "qualidades" que apelam aos sentidos e aos sentimentos.
Vejamos a hipótese grotesca de um indivíduo que consulta os catedráticos (hoje "professores titulares") de uma universidade sobre o que lhe parece serem os mais altos valores humanos: as obras de arte, os ideais da religião e da moral.
O antropólogo ou sociólogo lhe explicará que se trata de manifestações da psique, de projeções e sublimações de caráter anímico. Consultando em seguida o psicólogo sobre o que seria essa psique, essa alma do homem, o nosso estudioso aprenderá que a "alma", se é que existe, é condicionada por fatores fisiológicos como a libido, ou por substâncias biológicas como os hormônios, etc. Depressa o nosso curioso correrá ao catedrático de biologia para saber algo mais sobre a vida e suas manifestações. Este, conhecendo as últimas descobertas da bioquímica, responderá: "A vida é um conjunto de estados e funções de certos agrupamentos moleculares, de forma e estrutura definidas (ácido desoxiribonucléico, etc). A vida e suas manifestações? Uma série de reações químicas de substâncias simples, conhecidíssimas! Próximo ao desespero, o nosso homem irá ver o professor de química, se for honesto, lhe dirá: "Meu caro amigo, eu lhe posso descrever as propriedades dos elementos, mas na realidade não sei o que é a matéria. Vá ver o meu colega do departamento de física atômica". E, se não perdeu todas as esperanças, o nosso amigo as perderá desta vez. Com efeito, sua pergunta "o que é a matéria" merecerá apenas um sorriso irônico: "A matéria não existe. Ela é uma hipótese de trabalho. Tudo se reduz a partículas que podem ter características de massa, ou de carga elétrica, e de velocidade; mas na realidade não se trata bem de corpúsculos - nós inventamos essa imagem para maior comodidade, mas na realidade, não sabemos nada. Tudo se passa de acordo com certas fórmulas matemáticas, que contém até elementos sem significado para nossos sentidos". Mas esse "tudo" . . . "é nada".
Knighton Hill, Wayland Smithy, Oxfordshire Inglaterra em 29/08/2009
Foto Steve Alexander
E se o essa pessoa insistir, aprenderá ainda que o tempo é relativo, que o espaço (que ele imaginava como uma espécie de meio vazio no qual se encontram os objetos) é curvo e finito, embora ilimitado, e que a lei do determinismo (casualidade), base de todos os seus raciocínios anteriores, não é válida no reino de fenômenos muito pequenos (fótons, por ex.), constituindo no mundo "tangível" apenas uma lei estatística. Finalmente, ele saberá que no domínio do infinitamente pequeno a observação "objetiva" é impossível, porque o observador, pelo próprio fato de observar com os instrumentos apropriados, falseia os resultados observados . . .
Texto extraído do livro Noções Básicas de Antroposofia