por Bernardo de Gregorio"Aprendei com os lírios do campo.
Vede como crescem;
E no entanto não trabalham
Nem tecem".
Lourenço Diaféria sobre Mateus; 5 e 6)
Antes de finalmente entrarmos na prática da Diafania, é imprenescindível que o leitor tenha uma boa noção daquilo que os hindus chamavam de ‘‘karma ‘‘ e suas manifestações, pois deve-se estar avisado dos riscos que envolvem o lidar com cristais e a responsabilidade que isto representa. Não me canso de repetir advertências como estas, porque já pude presenciar inúmeros maus usos e abusos dos cristais de quartzo, tornando-se esta uma questão também cármica, como entenderá o leitor no transcorrer deste capítulo. Na verdade, o karma não é propriamente parte do simbolismo dos cristais, mas é uma lei inexorável do universo (ou do inconsciente, como queiram), à qual tudo e todos estão submetidos e, sendo assim, seu conhecimento é fundamental para que se saiba aguardar conseqüências de cada ato humano, conseqüências estas também amplificadas pelos cristais.
Muitas vezes usa-se popularmente o termo ‘‘karma ‘‘, mas na verdade, são poucos os que depreendem o verdadeiro significado desta palavra. O karma é pois, uma lei do universo aplicável a todos os planos do existir humano, desde o físico matrial até o espiritual. Como karma se entende a lei do retorno que rege a relação entre todas as causas e as conseqüências por elas provocadas. Todos os eventos do universo são causados por outros que os precederam e, por outro lado, são causas de ainda outros que os sucederão. Cria-se assim, uma cadeia de causas gerando infinitamente efeitos em todo o universo. Em outras palavras: sempre há uma causa que gera determinado efeito, que por sua vez é causa de outro [1]. Algumas vezes, essa seqüência causal de fatos é bem clara: se, por exemplo, atiramos uma bola e ela bate contra uma parede, isto é efeito do movimento da bola e causa do desvio de sua rota.
Quando, no entanto, por outras vezes, as causas responsáveis por efeitos são de natureza sutil, a seqüência causal não fica tão clara assim: se, por exemplo, uma pessoa fica doente, isto não só é causado por um agente infeccioso, mas também por uma baixa nas defesas imunológicas de tal pessoa e por um fator próprio da natureza da pessoa em questão[2] Um desequilíbrio energético gerado em desarmonias entre seus corpos sutis é a causa dessa baixa na resistência. Sabe-se que o ‘‘stress ‘‘, físico ou psíquico, causa a liberação de hormônios corticais das glândulas supra-renais que, entre outros efeitos, geram um rebaixamento na imunidade corporal. É fácil de se observar que pessoas que atravessam uma crise psíquica qualquer adoecem com maior facilidade, ao passo que pessoas que se encontram bem psiquicamente têm saúde mais estável. Pode-se dizer então, que determinada doença foi causada por uma não adequação do ego de uma pessoa ao seu Self, ou que há uma disparidade entre o consciente e o inconsciente, ou ainda que, de maneira geral, a doença é efeito de um desarranjo em seus corpos sutis.
Causalidades podem ser ainda mais sutis e, sendo assim, são, logicamente, muito menos perceptíveis. Quando um determinado encontro ocorre entre duas pessoas, isto tem como causa, não só uma seqüência de eventos coincidentes, mas, como sabemos (cap.5), também a ação sincrônica do corpo causal sobre o inconsciente (pessoal e coletivo). Pode-se depreender, portanto, que o encontro entre duas pessoas quaisquer tem como causa sutil os "desígnios da Moira". Tais metas espirituais estão na dependência dos tortuosos caminhos do Eu-superior e, quando se consegue depreendê-los, só serão tenuemente aperceptíveis pelo ego após passados muitos anos. Isto fica mais claro se observarmos que eventos históricos aparentemente pouco relevantes ou mesmo inteiramente "casuais", acabaram por alterar completamente o curso do caminhar da humanidade. O pesquisador Alexander Fleming, por exemplo, descuidou-se e deixou que uma de suas culturas bacterianas "embolorasse". "Casualmente", ‘‘ ‘‘o fungo que cresceu nesta cultura foi o ‘‘Penicillium ‘‘, que naturalmente produz uma substancia que mata bactérias: a penicilina[3]. Também o telescópio foi inventado por "acaso": uma criança de cinco anos, filho de um oculista, brincava com as lentes do laboratório óptico de seu pai e acabou arranjando-as em uma seqüência tal que proporcionou um incrível aumento de imagem. Histórias similares podem ser contadas a respeito da descoberta dos raios X [4]
[5]. Seria mesmo o "acaso" a causa destas descobertas e invenções fundamentais para o desenvolvimento da humanidade ou existiriam causas sutis localizadas no espírito? Jung [6] nos lembra de exemplo ainda mais intrigantes: o químico F. Kekulé von Stradonitz pesquisava a fórmula estrutural do benzeno e depois de muito esforço, não conseguia visualizar como poderiam os carbonos se encaixarem naquela estrutura orgânica. Tendo tentado todas as formas de cadeias alifáticas até então conhecidas, sem obter sucesso, Kekulé teve um sonho em que via uma cobra se arrastando pelo chão e mordendo seu próprio rabo, formando a imagem de um anel [7]. Acordando, teve a idéia de arranjar os carbonos em um anel e descobriu o anel benzênico que revolucionou a química orgânica de então. O próprio Jung certa vez procurava em vão se concentrar para escrever um de seus livros, na verdade o livro que revolucionaria as teorias psicológicas tradicionais descobertas por S. Freud e aceitas por Jung até então [8]. Jung tentava apresentar o inconsciente coletivo utilizando-se dos métodos filosóficos clássicos que tanto conhecia, parem não conseguia deduzir o que pretendia. Sonhou certa noite que um grande navio estava sendo carregado com muitos baús de bagagens e que se tentava colocar um belo corcel branco à bordo, mas o cavalo, arisco, resistia bravamente. A situação se prolongou no sonho sem que ninguém conseguisse levar o tal cavalo à bordo. Foi então que surgiu um imenso gigante que pisoteou o cavalo, os marujos e o navio, destruindo tudo o que havia em seu caminho. Acordando em sobressalto, Jung escreveu seu livro naquela mesma noite em um único movimento de pena. Jung interpretou o cavalo como sendo a lógica clássica e o método filosófico que relutava em entrar no "navio" (livro). O que o sonho lhe revelou é que o inconsciente ("gigante") não admite este tipo de esforço que ele tentava em vão impor-lhe e que acaba por abrir seus próprio caminhos no tempo adequado. Fica então provado que o inconsciente (ou os corpos sutis nele contidos) muitas vezes é causa de fatos que podem ser decisivos para a vida de alguém ou mesmo para toda a humanidade, "escondendo-se" sob forma de "acaso".
A lei universal de causalidade (causa e efeito) é então o que se pode chamar de ‘‘karma [9] ‘‘. Sendo assim, o karma é um antigo conceito hindu que se resume nos enunciados: a toda ação corresponde uma reação igual e contrária e semelhante atrai semelhante. Estas são as leis do retorno e da similitude, leis tão universais que são válidas para todas as dimensões do existir humano. Além dos exemplos já vistos, vejamo-la com maiores detalhes: sob um prisma material (quarta mônada), a primeira parte deste enunciado é uma lei da física bem conhecida que explica, por exemplo, o empuxo. O empuxo é um conceito físico primeiramente descrito por Arquimedes na Grécia antiga e hoje utilizado, por exemplo, para a construção de navios. Apesar da física não ser de modo algum uma matéria que domino totalmente, vou tentar explicar aqui, de maneira simplificada, a base deste raciocínio: um navio desloca com seu próprio volume uma quantidade de água; este volume d'água deslocado exerce uma força contrária à força do deslocamento e, por isto, se consegue que o volume d'água deslocado seja maior que o peso do navio, ele flutua. Esta força gerada no deslocamento d'água chama-se empuxo e ocorre pela ação da pressão atmosférica ("peso do ar") sobre a superfície líquida [10]. Isto quer dizer que o navio age sobre o mar e este, como um todo, reage contra o navio com a mesma magnitude. Podemos dizer que o universo tem uma tendência inexorável ao equilíbrio perfeito e que qualquer ação será imediatamente contrabalançada por uma reação igual e contrária que garante a ordem do mundo, tal qual foi visto com o exemplo do navio e o mar.
Porém a lei do retorno pode ser verificada na física também em exemplo mais simples: a cinética. Se um carro que anda pela rua abalroa outro veículo, a energia cinética do carro vai "amassar" este outro veículo; mas a resistência do veículo "amassado", "amassará" também o carro que o abalroou. Isto quer dizer que um carro bate no outro mas tem que receber uma batida igual e contrária contra si para que o equilíbrio do universo seja mantido. Assim, quanto maior é a força que se coloca em um "soco", maior o "estrago" no rosto do adversário, porém maior o "estrago" também na mão do "boxeador". Levando em conta esta realidade, as artes marciais orientais utilizam a força do adversário contra ele próprio, não oferecendo resistência. Rondam por este caminho também as diretrizes cristãs da mansidão, baseadas em oferecer a outra face (Mateus; 5:39) que também referem-se à não resistência, baseando-se, provavelmente, em um conceito cármico. Em cinética ainda, o conceito de ‘‘atrito‘‘ pode ser também considerado como o retorno devido a qualquer móvel que se movimenta [11] Completando as manifestações do karma a nível físico e concreto, a teoria da gravitação universal de Newton, nos revela que matéria atrai matéria na proporção direta das massas e inversa das distancias, mostrando a um nível material a lei da similitude: semelhante atrai semelhante. Com o mesmo raciocínio podemos dizer, utilizando-nos da física quântica, que energias de níveis quânticos diferentes não podem interagir entre si, porque somente o que é intrinsecamente semelhante interage. Existiriam ainda inúmeros exemplos, mas estes já somam número suficiente.
Falando também do karma, sob um ponto de vista orgânico, enquanto o equilíbrio dinâmico entre forças opostas, além de todos os sistemas fisiológicos de controle homeostático, vale a pena citar um exemplo interessante que pode ser encontrado no livro Os Demônios de Loudun, escrito por Aldous Huxley. Conta-nos ele: Em todos os níveis de nosso ser, do muscular e sensorial ao moral e intelectual, toda tendência gera seu próprio contrário. Olhamos para alguma coisa vermelha, e a indução visual intensifica nossa percepção do verde e até mesmo, em certas circunstancias, faz com que vejamos um halo verde contornando o objeto vermelho e uma imagem persistente em verde depois do objeto ser removido. Nós tencionamos fazer um movimento; um conjunto de músculos é estimulado e, automaticamente, por indução espinal, os músculos opostos se contraem. O mesmo conceito se aplica aos mais altos níveis de consciência. Cada sim provoca um não correspondente.
Sob um prisma psíquico (terceira mônada), se lembrarmos do conceito de Sombra (cap.3), notaremos que para cada pequena ação egóica, cada pequeno pensamento ou sentimento, existe na Sombra uma "ação", "pensamento" ou "sentimento" de mesmo valor e exatamente contrários, porque os opostos têm que caminhar lado a lado. Do ponto de vista existencial, cada pequena ação humana, por mais inconseqüente que possa parecer, gera uma rede infinita de efeitos que invariavelmente atinge toda a humanidade. Por outro lado, esta ação é uma escolha livre do Ser Humano em resposta a outra infinita rede de ações que a precederam. Por exemplo: quando resolvi escrever este livro, esta foi uma escolha que teve como um dos efeitos o próprio livro, que por sua vez causará algum tipo de impressão nos leitores. Esta impressão, maior ou menor, fará parte do ‘‘pool ‘‘de impressões e memórias de cada um dos leitores que, conscientemente ou não, tomará decisões posteriores baseando-se neste ‘‘pool ‘‘. Desta forma, não deixa de ser responsabilidade minha tal influência em futuras decisões do leitor. Esta é uma responsabilidade cármica, isto é, pelo retorno e pela similitude pode-se afirmar que tudo o que for gerado por este livro, de alguma forma, deve retornar a mim em proporção exatamente igual ao que foi por mim gerado.Isto é válido para o que seja bom e para o que seja mal: absolutamente indiferente. Pode-se começar a entender minha extrema preocupação em rechear este livro com advertências e em dedicar todo um capítulo ao karma. Procedendo assim, pretendo estar "acordando" a Consciência kármica de cada leitor, localizada em seu corpo causal (cap.5) e de certa forma, "garanto-me carmicamente" [12]. Por outro lado, as pessoas que sentem-se atraídas por esta leitura são, de alguma forma, semelhantes a mim e o meu próprio proceder determinará de maneira inconsciente o público que atingirei. Isto, a nível psíquico, é gerado pelos fenômenos de identificação e projeção (cap.3).
Falado assim, tudo pode parecer muito complicado e de fato, o é. Fica praticamente impossível a um Ser Humano (ao menos, a um ego humano) ter a consciência exata das conseqüências de todos e de cada um dos seu atos, pois essa intrincada rede cármica é complexa em demasiado para captarmo-la por inteiro. Como proceder então, dentro desta cadeia causal? O conselho não é meu, mas encontra-se no Novo Testamento: amai ao próximo como a vós mesmos (Lucas;10:27) e assim, tudo o que vós quereis que vos façam os homens, fazei-o também vós a eles. Porque esta é a lei (...)(Mateus;7:12). é agora, imagino, simples que se reconheça a lei do karma nesta palavras evangélicas: todas as atitudes que tivermos, de uma forma ou de outra, reverter-se-ão sobre nós mesmos, porque o "próximo" nada mais é do que nós mesmos em outrem projetados (Tu).
A lei do karma torna-se ainda mais complexa quando vista sob um prisma espiritual (segunda mônada), pois sabemos que nosso Eu-superior fez antecipadamente uma escolha de nosso destino para esta vida (cap.5). Isto quer dizer que andaremos pelos caminhos da vida guiados por este Eu-superior que se incumbirá de nos colocar em situações que são efeitos de uma causa espiritual remota, contracenando com espíritos que nos são, de alguma forma, semelhantes, efeitos gerados no nosso corpo causal. Estes desígnios sutis do espírito, este "trançar emaranhado" de "fios" no "tear da Moíra" (cap.5), é regido pelo que é chamado de ‘‘fio ‘‘ ‘‘vermelho ‘‘ ou ‘‘fio ‘‘ ‘‘de ‘‘ ‘‘Ariádne ‘‘. Esta é uma referência ao mito grego de Teseu e o Minotauro. O grande herói de Atenas, o príncipe Teseu, foi a Creta para matar um monstro metade homem, metade touro, que se alimentava da carne de jovens atenienses periodicamente a ele entregues. Oferecendo-se em sacrifício, Teseu entrou em uma grande e intrincada construção onde estava encerrado o Minotauro: o labirinto [13]. O herói matou com sua espada o Minotauro, mas precisou seguir um fio atado à sua cintura para descobrir a saída do labirinto. Atar este fio a Teseu, antes que entrasse no labirinto, havia sido idéia de Ariádne, princesa cretense que se apaixonara por Teseu e que queria garantir sua volta.
Sobre este "fio de Ariádne" nossa vida edifica-se. Depende de nosso proceder egóico o "matar o Minotauro", mas a saída deste labirinto que se chama vida, seu verdadeiro significado, só é dada àquele que se deixa seguir o "fio de Ariádne". Como foi dito no capítulo 5, tudo aquilo para o que não se pode ver uma causa aparente e a que se chama ‘‘acaso ‘‘, é causalidade com uma causa sutil localizada no corpo causal (inconsciente). Todas as situações em que somos jogados, só existem para propiciar nossa evolução (individuação). O karma não é, como muita gente pensa, um pesado fardo que temos que carregar ou simplesmente um castigo pelos erros cometidos. Muito pelo contrário, o karma é uma força suprema (primeira mônada) que nos impele para a evolução mediante situações que temos que superar. Como pode se processar a individuação sem que superemos nossas projeções e encaremos nossa Sombra? Cada vez que um Ser Humano supera uma dada etapa cármica, ele evolui e com isto gera uma rede infinita de efeitos que propicia a evolução de toda a humanidade. Por outro lado, se um Ser Humano acomoda-se e petrifica-se sobre seu karma, considerando-o um fardo que tem que carregar, ele bloqueia sua própria evolução, gerando uma rede infinita de efeitos que dificultará a evolução da humanidade. A imagem para este fenômeno é a de uma pedrinha jogada em um lago tranqüilo, onde círculos de ondas concêntricas formam-se de modo que com o tempo, todo o lago sente o efeito daquele pequeno abalo causado na superfície da água pela pedrinha (por menor que ele seja). Como a principal lei do universo (ou do inconsciente) é a evolução, todas as forças colocar-se-ão contra aquele Ser Humano que estiver estagnado e ele sofrerá as conseqüências da sua própria escolha pela não-evolução. A situação ficará cada vez mais crítica até que o tal Ser Humano entenda a lei do karma e resolva voltar a evoluir, e com ele toda a humanidade. Richard Bach nos traz uma linda imagem deste conceito em seu livro Ilusões, quando compara o Ser Humano a uma nuvem que apenas segue o impulso das forças da natureza e guia seu curso pelo vento sem nada questionar [14]. Rudolf Steiner, explica eximiamente a lei do karma desde o prisma físico até o espiritual em seu livro As Manifestações do Karma, cuja leitura aconselho para um aprofundamento das noções que aqui são semeadas.
A grande diferença entre o Ser Humano e os seres superiores é que estes compreendem a lei do karma e livremente deixam-se levar pelas forças divinas do universo sem a elas oporem resistência. Os seres menos evoluídos que o Ser Humano não têm a capacidade do livre arbítrio e são obrigados a seguir as forças divinas do cosmos [15]. Isto coloca o Ser Humano em uma posição única no universo: sendo obrigado a ser livre, não sabe utilizar sua liberdade e constitui o único ser capaz de ir contra estas forças cósmicas de evolução, guiando-se por sua própria ignorância [16]. Desta forma, o Ser Humano transforma-se no "fiel da balança" que pode bloquear com suas ações livres a sua própria evolução e a evolução do universo. Por isso dizer-se que vós sois o sal da terra (Mateus;5:13). No entanto, colocar-se contra este "governo oculto do mundo" é atrair para si conseqüências nefastas, pois ir contra o cosmos significa ir a favor do caos [17]. É por isso que se encontra no Novo Testamento a frase: aqueles que não estão comigo estão contra mim (Lucas;11:23). Pode-se começar a interpretar sob o ponto de vista cármico a lenda de Atlântida (cap.6), entendendo-se o porque foi atraída sobre aquele continente a "ira de Deus", como costumavam dizer os antigos, ou em nossa linguagem, o porque suas próprias decisões livres foram contrárias às leis do universo desencadeando uma seqüência de causas e efeitos que culminaram com a destruição total da raça vermelha. Repetem-se aqui os ensinamentos chineses do "Livro das Mutações" ‘‘I Ching‘‘ no hexagrama 51, quando Deus manifesta-se sob o signo do Trovão em temor e tremor (cap.4). Por outro lado, mesmo estas provas terríveis da inexorabilidade do karma estão previstas pelo "governo oculto do mundo" que toma suas providências para que a evolução do universo continue, como no caso do envio do Manu a Atlântida, ou no envio de Cristo para salvar o mundo, ou no envio de Buddha para apontar o caminho da iluminação.
Ao lidar-se com cristais de quartzo, nossa vontade, nossas emoções e nossos pensamentos são amplificados. Pela lei do karma, quanto maior é a ação do Ser Humano sobre o mundo, maior é a resposta que se deve aguardar. Sendo assim, aquele que possuir um cristal interferirá muito mais no mundo à sua volta, recebendo para si as conseqüências de seus próprios atos, amplificadas também. Fica portanto muito maior a responsabilidade cármica daquele que possui um cristal, pois quem semeia vento, colhe tempestade. Por outro lado, as possibilidades de evolução pessoal e, portanto, de toda a humanidade, são infinitas e muito de bom poderá advir de um uso mais amplo dos cristais.
Os elementais (2D) estão acima do Bem do Mal, eles "respondem" tão-simplesmente aos impulsos da natureza (ou por outra, eles são tais impulsos), sendo regidos diretamente pelas leis cósmicas e provocando no mundo as respostas a estas leis. Uma vez "despertados" por um Ser Humano, eles "deixar-se-ão" levar "alegremente" por nossas orientações como se "aceitassem" em nós uma parte do "governo oculto do mundo", não cabendo a "eles" nenhuma responsabilidade cármica por nossos atos amplificados. A responsabilidade é humana e é nossa tarefa aprender a lidar com essa complexa lei, sob pena de sofrermos as conseqüências de nossos atos. Isto já foi visto antes (cap.4), mas sempre vale a pena repetir.
A idéia de ‘‘karma‘‘ pressupõe uma outra idéia controversa que é o fenômeno da reencarnação. Como pode-se aceitar este fenômeno em uma visão junguiana? Em primeiro lugar, fique claro que mesmo sem se aceitar a reencarnação ‘‘per se ‘‘, as leis da causalidade (retorno e similitude) podem ser aceitas dentro dos limites do nascimento e da morte. Em segundo lugar, Jung (enquanto teórico) nunca preocupou-se em aceitar ou em refutar o fenômeno reencarnatório, limitando-se a dizer que o Self possui suas próprias diretrizes e razões e que não é dado ao ego conhecê-las, uma vez que a natureza do Self é transcendental e extra-psíquica: espiritual. Em terceiro lugar, Jung lida simbolicamente com a idéia de ‘‘reencarnação‘‘, considerando o símbolo da morte como um símbolo de transformação, onde a cada "morte", segue-se um "renascimento" [18]. Por uma abordagem simbólica, fica então resolvido o problema da reencarnação, mas no concreto, pouco pode-se falar a favor da idéia reencarnatória, além de apontar fenômenos um tanto místicos e duvidosos.
Aceitando-se a reencarnação ‘‘per se‘‘, causas e efeitos não limitar-se-iam ao período da vida humana encarnada, mas estender-se-iam para os períodos entre-vidas e para vidas anteriores e posteriores. Por vezes, acha-se uma causa sutil em fatos de uma vida passada (ou algo que poderia ser assim tomado), como um trauma, conforme demonstram os estudos de Edith Fiore e outros autores em Terapia Regressiva a Vivências Passadas (T.R.V.P.). Quem trabalha nesta linha psicoterápica, procura, utilizando-se de técnicas hipnóticas e psicodramáticas regressivas, causas no passado. Tais causas seriam inevitavelmente, segundo a T.R.V.P., eventos traumáticos (desta e de outras vidas). Trabalhar com as emoções e os sentimentos associados a eventos traumáticos passados é a função terapêutica em T.R.V.P. Mesmo que os relatos conseguidos em uma regressão não tenham nada a ver com vidas passadas, sempre podem ser considerados como criações do inconsciente, ainda que sejam simplesmente fraudulentos em relação à Realidade [19]. O importante são então, os símbolos que o material regressivo contém e mais uma vez, a Verdade prevalece sobre a Realidade (cap.3).Platão e Socrates
A idéia de que fatos de vidas passadas interferem ou podem interferir em nosso presente faz parte de diversas religiões, não só das védicas e budistas, mas também sendo parte inclusive do mito cristão da ressurreição de Cristo. Na filosofia, Sócrates e Platão já se valiam da noção de "lembranças" ou "reminiscências de outras vidas". É bem conhecida a noção de imortalidade da alma exposta por Platão em Phédon. Também é bem conhecido o diálogo Menon em que, ainda segundo Platão, Sócrates apresentou um problema geométrico [20] a um escravo sem cultura para exemplificar seu método singular de ensino: o não saber. Sempre questionando e nunca afirmando, inicialmente Sócrates fez ver ao escravo que ele efetivamente não sabia a resposta a tal problema. Após a consciência de sua ignorância, ainda sob a orientação das perguntas de Sócrates, o escravo foi capaz de deduzir o teorema matemático que respondia o problema [21]. Como foi possível que o escravo sem nada saber pudesse chegar a um teorema não tão simples assim? Sócrates (ou Platão) dizia que a alma, sendo imortal, possuía reminiscências de conhecimentos anteriores e, desta forma, o aprender deve ser parecido com o lembrar-se que já sabe. Por isso, o único e o maior conhecimento possível a um Ser Humano é o saber que nada sabe. Quem procurar esta idéia reencarnatória como símbolo, encontrará ainda muitas referências. Por exemplo, na alquimia, em sonhos, em estórias folclóricas, etc. Se é assim de fato, pode-se falar de um "arquétipo reencarnatório" e é sobre esta idéia arquetípica e simbólica que incide o karma (ao menos sob esta nossa visão).
Muitas pessoas colocam-se contra o fenômeno da reencarnação, sem ao menos perceber que ele é muito mais natural do que qualquer outra explicação para o nascimento e a morte. O Sol, ao término de cada dia, "morre" no horizonte, para "renascer" no dia seguinte. A Lua "morre" e desaparece a cada fase minguante, para "renascer" no céu a cada lua-nova. Toda a natureza "morre" a cada inverno, para renascer na primavera. Se a lei da física sobre a conservação universal da matéria e da energia está correta, então na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma, como disse Lavoisier. Se da matéria e da energia de que nosso corpo fisico-etérico é feito, provém, pela transformação, outras formas de matéria e energia, o que é feito da energia psíquica e espiritual de nossos corpos sutis? O ‘‘I Ching‘‘ confirma esta idéia com a lei fundamental das mutações [22]: tudo no universo se transforma, menos esta lei. Por que apenas nós, Seres Humanos, não estaríamos inseridos nesta natureza?
Diz-nos Steiner que o Ser humano, a cada morte, despe-se de seus corpos mais concretos enquanto sua consciência superior, o Eu, é mantida para que em uma próxima vida volte às dimensões concretas e continue seu caminho evolutivo seguindo as leis do universo. Sem esta noção de espiritualidade, que pressupõe o fenômeno reencarnatório, a vida humana seria vazia e desprovida de sentido. Ao se negar a própria espiritualidade, adverte-nos Helena Blavatski, está se negando o próprio Eu e um processo de morte inicia-se de acordo com as leis cósmicas. Se eu nego minha própria existência enquanto individualidade eterna, o efeito cármico disto é meu próprio desaparecimento. Mesmo ao negar-se o karma, ele não desaparece, bem como podemos negar à vontade a lei da gravidade que com isto ela em nada se alterará (o máximo que conseguiremos é experimentá-la, com um braço quebrado, por exemplo). No processo de morte e renascimento, voltamos a estar entregues às leis do universo e somos orientados nas dimensões superiores por seres mais evoluídos que se incumbem de reinserir-nos no caminho da evolução, de acordo com nosso próprio karma.
Retomando nossa discussão sobre o karma e entendendo que os leitores tomarão a idéia da reencarnação [23] como pressuposto para a continuidade da Diafania, cabe ainda dizer que por vezes a causa de um fato pode ser encontrada, surpreendentemente, também no futuro. Sim, na 9.a dimensão (cap.5), onde o karma encontra sua raiz; presente, passado e futuro são aspectos de um mesmo ser e são, por assim dizer, concomitantes. Pois não é o inconsciente atemporal? Sem problemas podemos entender que a mão direita e a mão esquerda fazem parte de um mesmo corpo físico na 3.a dimensão. Por que não entenderíamos que presente, passado e futuro seriam parte de um mesmo corpo causal na 9.a dimensão? Não havendo, portanto, uma necessária seqüência cronológica entre causas e efeitos a nível inconsciente, o karma pode se apresentar retrógrado, com uma causa futura levando a um efeito passado. Isto pode ser visto no filme "Excalibur", quando ao vislumbrar a futuro rei Arthur que unificaria toda a Inglaterra, Merlin aceita a proposta de Uther em usar da magia para que ele passe uma noite com Igraine e diz: Está feito. O futuro criou raízes no presente. A causa para a decisão de Merlin está nos feitos do rei Arthur, que então, não havia nem mesmo sido concebido. De uma maneira bem mais detalhada M. Z. Bradley conta-nos a mesma estória em suas Brumas de Avalon.
Através da intuição e do "acaso", o futuro interfere em nosso presente a cada instante. Em fatos cotidianos, isto pode ser visto de uma forma muito simples: se no futuro alguém quiser ser, digamos, médico, isto pressupõe cursar uma faculdade de medicina, e este vislumbre do futuro influencia a que se preste vestibular para medicina. Seria incoerente que alguém pretendesse formar-se médico cursando uma faculdade de direito. Desta forma, nossa vida presente, as vidas passadas e vidas futuras (dentro dos limites do nascimento e da morte, ou não) entrelaçam-se em causas e efeitos segundo a lei do karma no curso de infinitas "encarnações" pela eternidade (mesmo que em uma só vida). Sartre em sei estudo sobre a temporalidade no livro O Ser e o Nada, chama estes tempos de ‘‘passado-presentificado‘‘ e ‘‘futuro-presentificado ‘‘, respectivamente. E parece-nos muito natural que estes tempos resumidos pela presentificação em um momento virtual egóico chamado o agora, possam influir grandemente em nossa ‘‘Weltanschauung [24] e, portanto, nas escolhas livres que fazemos. Da mesma forma, esta ‘‘Weltanschauung‘‘ altera totalmente as leituras feitas dos fatos do passado e dos ‘‘vir-a-ser‘‘ do futuro e realmente passado e futuro se alteram a cada momento presente. A idéia mais importante sobre o karma é a de que o Ser Humano interfere em seu próprio destino, tanto futuro quanto passado, através de cada pequena ação no presente. Todos os eventos de uma vida humana encontram-se encadeados em seus mínimos detalhes, de forma a construir uma infinita teia cármica que une todos os momentos diferentes de tempo e todos os pontos do espaço. Desta forma, o tempo e a temporalidade perdem suas linearidades e aprentam-se tridimensionais em uma hiper-estrutura espacial. Todos os Seres Humanos tornam-se um, quando vistos assim. Jorge Luís Borges tem uma belíssima imagem para isto em seu conto O Aleph (in PDF), onde descreve um fenômeno transdimensional que ocorre no porão de sua casa, em que o mundo pode ser observado ao mesmo tempo em todos os seus aspectos diferentes.
Concluindo: superar o karma significa entendê-lo, descobrir o "fio de Ariadne" que orienta a construção desta teia e deixar-se conduzir por ele, cumprindo livremente o seu próprio destino. O estudo detalhado e atento de uma biografia humana revela a trajetória deste "fio de Ariadne", auxiliando na compreensão desta meta sutil do espírito [25]. Tudo e todos estão sob o efeito das leis cósmicas, das quais ressaltamos aqui o karma. Por esta razão cada encarnação humana tem o objetivo específico de superar etapas evolutivas típicas de cada espírito, frutos da evolução individual em encanações anteriores e posteriores (talvez também concomitantes?). O karma é a lei da "economia" espiritual que se incumbe de retribuir todas as ações humanas na mesma moeda e com a "justiça divina", além de colocar-nos no meio que nos é semelhante e próprio. O karma é a "ecologia" espiritual com seu equilíbrio próprio e delicado, com seus "ecossistemas" bem definidos. Todos tem a vida que merecem, na proporção exata ao que têm direito, ou melhor, todos têm a vida que acreditam merecer, na proporção exata de que acreditam ter direito. Qualquer transformação desta vida é evolução e será retribuída, seja o bem com o Bem ou o mal com o Mal. O Ser Humano está livre para atuar no mundo e com sua própria experiência descobrir a verdade cósmica para finalmente integrar-se espontaneamente ao "governo oculto do mundo".
[1] NB: este raciocínio mantém-se lógico se não for questionado jamais qual é a causa de todas as causas, ou qual seria o efeito de todos os efeitos. Este paradoxo deve ser habilmente evitado neste ponto, como nos adverte E. Kant.
Notas:
[2] NB: conforme postulado de L. Pasteur:
Agressão Idiossincrasia Doença Defesa
[3]
[4] NB: um filme fotográfico foi esquecido casualmente ao lado de um tubo de raios catódicos e houve o aparecimento da imagem dos ossos da mão esquerda da esposa de W. R<\v>ntgen., da eletricidade.
[5]
[6]
[7]
[8]
[9]
[10] NB: mesmo princípio do fenômeno dos vasos comunicantes
[11] NB: exclui-se, evidentemente, as situações de vácuo hipotético.
[12] NB: garantir-se carmicamente é uma possibilidade puramente hipotética, sendo na prática irrealizável
[13] NB: referência ao castelo de Knóssos, conhecido em grego como labriV oikoV, ou seja: ‘‘labris óikós‘‘ "a casa do duplo machado" do grego antigo: labriV inqoV, ou seja: ‘‘labris inthós ‘‘donde: labirinqoV, ou seja: ‘‘labirinthós ‘‘e em português, ‘‘labirinto ‘‘. Ver também referência no capítulo 18 sobre o símbolo do touro
[14] NB: uma nuvem não pensa para onde deve ir. Apenas sente um impulso e vai
[15] NB: do grego: kosmoV, ou seja: ‘‘kósmos‘‘ ‘‘mundo" "a ordem do mundo"
[16] NB: por caminhos inteiramente diversos, autores como E. Kant, J. J. Rousseau e J. P. Sartre, chegam às mesmas conclusões. Seria interessante um estudo das obras sobre ética destes autores, já que aqui não há espaço para uma tal comparação
[17] NB: do grego: caoV, ou seja: ‘‘cháos‘‘ ‘‘abismo escuro e profundo", "desordem", "o nada"
[18] NB: muitos aspectos desta visão simbólica junguiana podem ser encontrados no livro Símbolos da Transformação de C. G. Jung
[19] Em relação a isto, expus no 1.o Encontro Nacional de Terapias Regressivas a Vivências passadas (1.o ENTRVP), a interpretação completa da seqüência de regressões de um caso clínico narrado por Fiore em seu livro Já Vivemos Antes
[20] NB: qual a medida do lado de um quadrado perfeito com área 2?
[21] NB: o lado de um quadrado é dado pela diagonal de um quadrado com a metade de sua área,. Logo, o lado de um quadrado com área 2 é a diagonal de um quadrado de área 1
[22] NB: lei esta contida no ideograma em chinês para ‘‘I‘‘
[23] NB: ainda que meramente como símbolo e não necessariamente como um fenômeno factual
[24] NB: do alemão: "visão de mundo", "ponto de vista"
[25] NB: estudos assim são encontrados, por exemplo, no livro Biografia e Psique de Rudolf Treichler
Fonte: grupo de estudos transição planetária Cinturão de Fótons